Já escrevi em outro artigo (http://www.apsicanalise.com/blog-psicanalise/116-as-perversas-chuvas-de-verao.html) como as tragédias de verão (sempre anunciadas como trombetas do apocalipse) possuem uma estrutura perversa. Faz praticamente um ano que escrevi esse artigo. O que vemos hoje, quando o governo anuncia uma tal de “Força Nacional de apoio técnico de emergência” (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1031898-governo-anuncia-forca-de-especialistas-para-monitorar-desastres.shtml) já beira a psicose pura e simples.
Classicamente o delírio é uma tentativa psicótica de reconstruir a realidade insuportável, tornando-a no mínimo habitável, ainda que com profundo sofrimento. Geralmente não é toda a realidade que é negada, mas “partes” dela. Alguém em sã consciência que essa tal “força tarefa” vai RESOLVER algo? Lógico que alguma coisa é melhor que nada ... mas ... pensando bem, essa forma de pensar nos faz sempre ficar com essa tal “alguma coisa” e não ir para a solução. Padecemos desse mal de sempre escolher essa “alguma coisa”.
A solução neurótica pressupõe um sofrimento diferente – que vamos nos render a realidade, sem falseá-la. Podemos até mentir para nós mesmos, mas não aos outros. O que pressupõe que tanto a população quanto o governo vão ter que indispor uns com os outros para resolver o problema da ocupação do solo. O Estado não é um deus que deve resolver todos os problemas e nem vai consegui-lo, e que a população vai ter que assumir mais responsabilidades por suas próprias vidas (não se constrói casa em área de risco e depois se culpa outra pessoa) e pelo seu voto (a maioria nem se lembra em que deputado votou nas ultimas eleições).
Dizer não aos filhos é algo muito duro, mais ainda quando eles podem através do voto escolher novos pais. Esse é o desafio do pacto social brasileiro – o estado não é o nosso pai, quando muito é padrasto de contos de fadas.
Ale Esclapes